CAMINHO PARA O DESPERTAR

PRISÃO MENTAL

A mente é uma prisão. Nascemos e crescemos dentro dela, acreditando que é comum e normal vivermos enclausurados dentro de suas limitações. As grades que limitam esta prisão são nossas ideias, crenças, conceitos, esperanças, sonhos e fantasias. 


Para o despertar, não importa o tipo de pensamentos que nossa mente projeta. Os pensamentos são como as grades que nos separam da verdadeira liberdade que, numa palavra só, pode ser sintetizada como VERDADE. 

Enquanto estivermos presos aos conceitos, crenças, sonhos, etc, não importa quais sejam eles, jamais poderemos conhecer a VERDADE que a tudo permeia e penetra. 

Qualquer religião, retamente vivida e levada a sério, transforma o homem numa grande alma, cujos frutos da espiritualidade serão colhidos nesta e em próximas existências.
Bendito seja o homem religioso!!!
Porém, o despertar ou a iluminação está muito além de qualquer doutrina esotérica ou religião. 
Muitas vezes, estas mesmas religiões ou doutrinas são presídios mentais que impedem a liberação total.

Ainda que uma pessoa viva 100% de sua religião, se ela não se libertar de todos os conceitos e mecanismos mentais, ela não alcançará a liberação e facilmente continuará prisioneira do samsara, entrando e saindo dele inconscientemente.

A única diferença entre a vida sem religião e a vida dentro de uma religião é que, na primeira, as grades que nos mantém aprisionados são de ferro bruto e, na segunda, as grades são de ouro.

Quando alguém se dá conta que está preso, simplesmente quer se libertar e disso vem o despertar.

Quando não nos damos conta que estamos presos, ficamos felizes e vivemos contentes, porque possuímos ouro em barras, ainda que não saibamos que esse mesmo ouro sustenta a nossa prisão. 


Todo aquele que vive intensamente sua religião, acaba por descobrir que ela não é melhor nem pior do que outra qualquer. Por isso dia chegará que essa pessoa acabará por transcender os conceitos que a aprisionavam e, aí sim, dará então o primeiro passo na Senda da Iluminação. Antes, é bem difícil.
Simplesmente pedimos que cada mensagem seja motivo de profunda reflexão, estudo concentrado e meditação. 
Assim, com o tempo, tais ensinamentos aos poucos passarão da mente para o      coração, ficando profundamente gravados em vossa consciência.
Benditos sejam todos

Por: Daniel Ruffini


CONTINUIDADE E FOCO  

A natureza humana é de uma fragilidade que espanta!
O ser humano em determinado momento está feliz, repleto de alegria e sorrisos para com todos. Basta, porém, apenas uma palavra, nada mais que uma palavra para mudar seu estado emocional.

É possível prever com exatidão as reações de qualquer pessoa. Tristeza, alegria, raiva, ressentimento, mágoa, dor, medo, etc.

Todas essas reações da mente têm como pano de fundo os defeitos humanos e os condicionamentos por eles criados. São estes condicionamentos que nos impedem de agir com plena liberdade de consciência, acorrentando-nos a formas antigas e pré-concebidas de pensar, sentir e falar. 

A origem de nossos condicionamentos está tanto no passado próximo (esta vida) quanto no distante (vidas passadas). Como se não bastasse, a cada instante criamos novos condicionamentos que, somados aos anteriores, irão reger e conduzir nossa triste existência através dos anos que estão por vir.

Além de estarmos presos a todos esses condicionamentos ancestrais, a natureza rebelde e desregrada da mente mantém a consciência, ou o pequeno percentual que dela podemos expressar, num estado de torpor e inatividade. 

Iluminar-se é livrar-se de todo e qualquer condicionamento. Iluminar-se é despertar para o novo que se apresenta a cada instante, cada segundo. Com a iluminação rompemos as amarras que impedem o fluxo livre e contínuo da consciência.   

O início desse maravilhoso trabalho de despertar começa quando passamos a nos dar conta que vivemos numa prisão conceitual regida pela análise e pelos mecanismos comparativos da mente.
Temos dito: A mente é uma prisão e as grades são os conceitos.

Há conceitos de ouro e conceitos de ferro. Tanto faz se estamos presos a idéias materialistas ou espiritualistas. Conceitos são conceitos. Grades são grades.

Por mais que um ensinamento seja belo e puro, este não deixa de ser um apanhado de conceitos que, se não forem absorvidos e cristalizados na alma, nos manterão encarcerados atrás de grades douradas. 

Ora, os seres despertos e iluminados nos ensinaram que todo homem necessita de uma religião para iniciar sua jornada ao Seio do Absoluto. Porém, estes mesmos seres sagrados transcenderam as ideias e conceitos que eles mesmos aprenderam e difundiram.

Por isso, ensina-se nos círculos mais reservados das doutrinas sagradas que o último, e mais difícil dos apegos a ser dissolvido, é o apego à religião e ao Caminho.

Desapegar-se de tudo aquilo que aprendemos e de todos aqueles conceitos os quais pautaram nosso desenvolvimento espiritual, não significa, em hipótese alguma, abandonar o trabalho interno ou ignorar os antigos ensinamentos.   

A mente iluminada nos permite estar em tudo sem ser vítima das armadilhas douradas que se ocultam dentro das tradições espiritualistas. 

Certa vez um peixinho procurou um sábio siri que vivia entocado numa concha e perguntou: “Sábio ancião, o que é o Oceano?”  

O ancião respondeu: Oh, linda criança! O Oceano é tua verdadeira natureza. Está dentro e fora de ti. Sem Ele tu não viverias. 

O Peixinho, intrigado, perguntou: “É possível ver esse tal de Oceano? Como posso fazer isso?”

O sábio siri, com toda a paciência do mundo, respondeu: “Claro que é possível, linda criança! Porém, para isso, necessitas deixar de ser o que tu sempre foste, tornando-te um pássaro altaneiro chamado águia que vive muuuuiiiitttttooo além destas paragens”.

Disse ainda, o sábio ancião siri: “Quando tu te tornares uma águia, poderás abandonar o meio em que vives e voares tão alto que poderás ter um vislumbre do que é o Oceano”.

E acrescentou o siri: “E, mesmo que tu voes o mais alto possível, jamais poderás ver o Oceano por inteiro”. 

Querido amigo, nós somos como este peixinho inocente em busca de compreender o universo e conhecer a natureza de Deus, porém vivemos tão perdidos em nossa antiga e habitual forma de pensar e sentir, que não somos capazes de ver o Oceano no qual nos movemos, existimos e nascemos.

Queremos desvelar os segredos do universo e conhecer a pureza dos Budhas usando nossa pobre e limitada mente.

Como somos peixinhos sofisticados, acumulamos informações científicas, filosóficas e religiosas na ânsia de desvelarmos os mistérios da eternidade. Mas isso não funciona assim...

Se quisermos, de fato, conhecer a natureza do Oceano, necessariamente devemos nos transformar de peixes em águias. Este pássaro magnífico representa a natureza imaculada da mente. O Ser. O espírito, como queiram chamar.      

Despertar a consciência, atingir a iluminação, requer uma dura metamorfose. Como peixinhos, vivemos perdidos nas teorias do pensamento; como águias, abandonamos a razão fria e obscura para nos movermos livres através da visão clara, aguda e intuitiva do não-pensar e não-reagir.

Certo é que todo o processo de despertar tem várias etapas que precisam ser cumpridas. A iluminação total é o resultado de muitos anos de prática e imersão dentro si mesmo. Porém, todos os iluminados sagrados iniciaram, um dia, tal como agora estamos iniciando. 

A chave para o sucesso é a continuidade e o foco. Não importa se somos novos ou velhos, se temos uma expectativa de 10 ou 50 anos de vida. 

Quanto ao foco, mantê-lo é de extrema importância. É o foco que nos dá a qualidade do trabalho espiritual. É o foco que nos mantém sempre no cerne da questão espiritual e nos impede de perder tempo com o desnecessário e supérfluo para a iluminação e liberação.

Hoje em dia o esoterismo foi tão banalizado que virou um conhecimento como qualquer outro. Tarô, Caballa, astrologia, antropologia, numerologia, búzios, chakras, energização, cura magnética, reiki, etc. 

Entretanto, há que se refletir na essencialidade de todas as coisas e sempre nos perguntar:

“O que esse ou aquele conhecimento acrescentará em meu despertar?”
“O que esse ou aquele conhecimento acrescentará em meu despertar?”

Lembre-se, estamos cheios e precisamos nos esvaziar.

Sê sincero, caro amigo, o que todos esses anos de acúmulos de informação esotéricas trouxe para teu despertar? Provavelmente muito pouco. Talvez nada.

Lamentavelmente, o acúmulo de tanta informação comumente cria a falsa ideia de avanço espiritual. Temos respostas (teóricas) para todas as perguntas ligadas à existência humana. Entretanto, continuamos a ser essencialmente os mesmos, somente mais sofisticados. Logo, perdemos anos preciosos de nossas vidas unicamente por falta de foco.

Pior, criamos mais mecanismos e condicionamentos mentais, só que de caráter religioso e doutrinário. Em outras palavras, acabamos por nos emaranhar nas sutilezas conceituais e nas fantasias espiritualistas, bem mais difíceis de ver e de se libertar do que os simples condicionamentos materialistas que regem boa parte da humanidade.

Tudo tem sua importância e seu tempo. Essa é a diversidade que, por sua vez, nada mais é do que a Unidade em suas múltiplas formas de expressão.
A falta de FOCO e CONTINUIDADE são os responsáveis pelo lento e difícil progresso. 

Escrevo para aquelas pessoas que estão cansadas de agir e reagir como o faziam há 5, 10 ou 20 anos atrás. Os mesmos defeitos, as mesmas manias, os mesmos gostos, só que agora mais refinados e sutis (mais ocultos na verdade)....

É hora de mudar. É hora de deixar de ser peixe para se transformar em águia.

A prática, somente a prática, nos levará à metamorfose.                    

Por: Daniel Ruffini

ATENÇÃO PLENA  

A mente humana possui um estado natural de quietude e serenidade que precisamos reconquistar. 

Sem a presença desse estado a consciência não pode se expressar. Se a consciência não se expressa, permanecemos presos à mecanicidade, de maneira que nossos atos continuam sendo condicionados pelo passado.
O condicionamento é fruto da obscuridade, e a obscuridade é a morada de nossos defeitos.  

A “mente natural” caracteriza-se pela inexistência de pensamentos inconscientes. Não que os pensamentos deixam de existir, pois vivemos no mundo e necessitamos da mente para muitas coisas úteis do diário viver. A diferença é que através da “mente natural” nos tornamos senhor e amo de nossos pensamentos e não escravos e servos daquilo que surge inconscientemente através deles.

Os pensamentos inconscientes sempre são veículos da obscuridade humana. São eles que nos remetem ao passado e ao futuro, impedindo-nos de viver a única realidade possível - o agora.

Estar desperto é viver integralmente o agora. É estar “por inteiro”, presente em cada ato da vida. Vivendo o momento “por inteiro”, expressamos somente a consciência. Com a consciência se expressam, em diferentes graus, os atributos que a ela pertencem, tais como sabedoria, compaixão, mística, doçura, etc.
Os atributos da alma, ou da consciência, não são, não estão e não fazem parte da mente. Por isso, a mente e os pensamentos inconscientes que através dela são veiculados, não podem expressar as virtudes sagradas do Ser.

Ao contrário da “mente natural”, que sempre nos remete ao presente, a mente inconsciente nos remete ao passado e ao futuro. Quando falamos em passado ou futuro, somos tentados a pensar nos anos que se foram ou nos anos que estão por vir. Erro!

O passado nem sempre está nas brincadeiras de criança, mas muitas vezes nas imagens do jornal que vimos 5 minutos atrás ou na conversa que tivemos com os amigos de trabalho no período da manhã. O mesmo ocorre com o futuro. Nem sempre os pensamentos inconscientes se projetam para o plano de aposentadoria privada ou para o que faremos quando nossos pais falecerem, mas sim para o compromisso que tenho daqui a 5 minutos ou para o filme que quero assistir no período da noite. 

A mente obscura nos conduz, no diário viver, através de um emaranhado de pensamentos que se associam uns aos outros em milésimas frações de segundo. Em apenas poucos segundos nossa mente pode associar dúzias de pensamentos inconscientes, mantendo, dessa forma, o pouco de consciência que temos na mais absoluta inatividade. Uma pessoa que não trabalha sobre o despertar pode passar dias sem expressar uma centelha de consciência. Isso é triste, mas é a realidade.

É possível reverter esse lamentável quadro. Para isso, entretanto, faz-se necessário desenvolver o estado de “atenção plena”.

O estado de “atenção plena” exige de nós uma “super-atividade” da consciência. Se há uma palavra que define e engloba os princípios elementares do despertar e da iluminação, essa palavra é: ATENÇÃO.

Onde há atenção, há atividade da consciência.   

Quando nos sentamos para meditar focamos nossa atenção para dentro de nós. Se perdermos a atenção, a mente cai em devaneios e fantasias, e logo vem o sonho. É a atenção que sustenta a consciência e abre espaço para experiências mais profundas.

Muitas pessoas pensam erroneamente que meditar é manter a mente em branco. Em realidade, meditar é ter plena consciência de tudo que se passa em nossa mente e fora dela (pensamentos, lampejos de ideias, sensações, emoções, sons, etc). O estado de serenidade mental e o vazio são uma conseqüência da “atenção plena” e não o resultado de um esforço.

É a atenção que sustenta e expande a percepção, dando possibilidade da consciência expressar-se. É a atenção que focaliza, observa e contempla cada pensamento, idéia, imagem, lembrança e sentimento que surge em fração de segundo. A atenção observa e contempla, não julga, cataloga, equipara, associa e critica, atividades estas comuns aos pensamentos inconscientes.

A “atenção plena” deve ser o foco principal de todo trabalho da Senda da Iluminação. Ela é o que existe de mais básico e fundamental. É tão fundamental que a levaremos conosco até o fim de nossos dias. A diferença está no grau de “atenção plena” desenvolvida. Quanto maior o grau, quanto maior a perfeição, quanto mais profunda e aguda ela for, mais amplo, rápido e profundo será o despertar e a iluminação.

A “atenção plena” deve ser o foco principal de todo trabalho da Senda da Iluminação. Ela é o que existe de mais básico e fundamental. É tão fundamental que a levaremos conosco até o fim de nossos dias. A diferença está no grau de “atenção plena” desenvolvida. Quanto maior o grau, quanto maior a perfeição, quanto mais profunda e aguda ela for, mais amplo, rápido e profundo será o despertar e a iluminação.

O discípulo mais antigo curvou-se sobre o leito de morte e perguntou a monja qual seria sua última orientação. Numa voz baixa e fraca, porém repleta de serenidade e paz, ela simplesmente disse: “Atenção”.

Por fim, ainda não contentes, vendo que sua mestra já desencarnaria nos próximos segundos, fizeram uma última tentativa, pedindo a ela que falasse algo mais sublime ou místico, uma frase, um mantra especial, uma oração ou uma invocação aos mestres do nirvana. Ela, em silêncio, num último esforço, focou toda vitalidade que lhe restava e disse: “Atenção”. Imediatamente após, desencarnou. 

Logo, a atenção é tão importante que sem ela não há meditação. A “atenção plena” precisa ser fortalecida através da prática diária da meditação e da oração. Assim, com seu aperfeiçoamento e fortalecimento, podemos elevá-la a uma oitava superior.

A oitava superior da “atenção plena” é um grande desafio. Tal desafio é levar a “atenção plena” para o dia de 24 horas. Esse é o verdadeiro despertar. Ser capaz de ter plena e total percepção do corpo, dos sentimentos e sensações, dos pensamentos e do que se passa a nossa volta.

Ao realizar qualquer gesto, ao dirigir a palavra a qualquer pessoa, ao caminhar, ao conduzir o carro, ao lavar a louça, ao se vestir, ao escrever, etc, a “atenção plena” nos faz estar “por inteiro” no que estamos fazendo. Com a “atenção plena” atuando 24 horas por dia, a “mente natural” sempre estará focada no momento presente, nem 1 minuto antes e nem 1 minuto depois. 
Não mais sonhos. Não mais fantasias. Não mais devaneios. Não mais medos, tristezas e sofrimentos. Não mais obscuridade. 

Somente a consciência abrindo espaço para que o Amado Pai atue no mundo.
A realidade, a plena realidade. 

O mistério do amado Pai que se ocultava na eternidade de cada segundo, agora desvelado ao filho querido. 

Bendito seja.

Por: Daniel Ruffini

APEGO
Caríssimo, 

Queres despertar?

Atenta então ao que segue.

O despertar da consciência é de natureza tão sutil que comumente vivemos eras inteiras sem ao menos perceber a necessidade de despertar. 

Despertar não é o mesmo que ser religioso ou espiritualista. 

Um homem pode durante centenas de vidas freqüentar igrejas e templos, participar de rituais e se tornar erudito nas escrituras sagradas, entretanto nunca se interessar pelo despertar e nem sequer compreender o que é o despertar.

A iluminação e liberação necessariamente passam pelo despertar. A auto-realização é inconcebível sem o despertar. O estado de iluminação está além de qualquer racionalização, e mesmo as ideias mais belas e aparentemente profundas estão bem distantes do despertar e da iluminação.
Enquanto a mente não se ilumina existe apenas escuridão. Todas as filosofias, teorias religiosas e espiritualistas do mundo não passam de escuridão quando o assunto é iluminação.

Pode o Budha Interior brilhar numa mente repleta de inconsciência?!

Pode o Cristo Íntimo exercer a realeza entre os fariseus e saduceus?!

É urgente começarmos a despertar para um dia atingir a iluminação completa!

Somente a iluminação libera o homem do sansara. Somente a iluminação prepara o homem para receber os princípios superiores do Ser. 

Sem a iluminação, o Sol interior não pode brilhar. Logo, comecemos por despertar aqui e agora.

O despertar está além de todo e qualquer conceito esotérico ou doutrinário. O despertar independe de crenças. Ao contrário, enquanto a mente estiver agarrada às crenças e conceitos, jamais poderá despertar para o despertar.

É da natureza da mente ordinária fixar-se às ideias e não querer abrir-se ao novo. É mais fácil, é mais simples, é mais agradável e é mais prazeroso agarrar-se aos conceitos antigos. Isso gera a falsa impressão de que temos tudo sob controle e de que caminhamos bem na Vida.

Se alguma ideia fere nossas crenças, a mente reage e repudia o novo, tentando manter intocáveis os conceitos pré-concebidos. Assim, as reações da mente ordinária têm sempre como pano de fundo o batalhar das antíteses. Se for bom, agradável, belo e prazeroso, queremos perpetuá-lo. Se, ao contrário, for mal, desagradável, feio ou não prazeroso, queremos repudiá-lo. 

O batalhar das antíteses forma uma espécie de caldo o qual mantém nossos pensamentos nele mergulhados. O fluxo contínuo e descontrolado desses pensamentos – a chamada tagarelice mental – nasce desse caldo que também é conhecido como inconsciente humano.

A mente ordinária não só vive entre as antíteses, mas também costuma se agarrar aos pensamentos mais triviais do diário viver, lançando-se ao passado ou projetando-se ao futuro. Nesse ir e vir deixa de estar na única realidade possível – o agora. 

A mente desperta está livre da tagarelice mental. Ela deixa de ser vítima do batalhar das antíteses e do jogo mental do agarrar e do repudiar que manobra, constantemente, o fluxo inconsciente e mecânico dos pensamentos.
Se quisermos nos libertar da tagarelice mental e alcançar o estado de mente desperta devemos ir além da dualidade e transcender o hábito de fixar-se às ideias.

Já sabemos que as reações da mente e a tagarelice mental nascem da dualidade.

Já sabemos que a dualidade existe porque a mente ordinária agarra-se firmemente aos conceitos e repudia o que não lhe convém.
Além disso, também sabemos que os pensamentos triviais fazem a mente divagar entre o antes e depois, impedindo a percepção da realidade presente – a única possível.

Porém, de onde vem o agarrar e o repudiar?

Por que nos fixamos aos pensamentos e não queremos ver que são esses mesmos pensamentos que nos aprisionam?

Já te deste conta, caro amigo, que para proteger tuas ideias normalmente sacas mão da ira, do desprezo, da indiferença, do cinismo ou de escárnio?!
Então, de onde será que vem essa tendência em tentar proteger ferozmente nossas crenças e pensamentos?

Se quiseres em verdade despertar, estuda, reflete e medita para que compreendas e absorvas esses ensinamentos.

A dualidade tem seu fundamento no princípio do prazer. Todos os movimentos da mente ordinária visam gerar prazer ou usufruir de situações prazerosas. 

Entretanto, o prazer em si mesmo não é bom nem ruim para a espiritualidade.

É o que é, e nada mais. O mal, em si, não está no prazer, mas sim no APEGO AO PRAZER.

É o apego ao prazer que nos mantém prisioneiros da dualidade. O apego ao prazer funciona como um ópio mental. Sim, mental. Atenta a isso.

Os sentidos são a porta por onde transitam as impressões negativas e positivas. Porém, as impressões negativas penetram em nossa mente e, em algum lugar obscuro do inconsciente, acabam por fixar-se e criar morada. Ali, em meio à escuridão, elas dão nascimento e fazem crescer o ego animal, fonte de todo sofrimento humano.

Das sombras de nossa escuridão o ego projeta o futuro e rememora o passado. Cria sistemas, planos, manobras, ideias, crenças e fantasias para dar continuidade a sua existência. Ali, no inconsciente obscuro, o apego, como uma árvore, finca suas raízes e lança seus galhos e folhas através da mente ordinária, impedindo que a luz solar penetre no solo a seu redor.

O apego ao prazer torna a mente obtusa, pegajosa, impura. Desvirtua a visão e obscurece o entendimento. 

Na ânsia de reter e perpetuar o prazer, o homem se aferra aos bens transitórios do sansara e amplia seu sofrimento. Desvirtua os sentidos, transformando-os em elementos que embrutecem a alma e entorpecem a mente.
Esse processo culmina com a total cegueira espiritual. Os “olhos da alma” ficam lacrados e impossibilitados de ver além da materialidade. Logo, o homem apega-se às coisas externas, como pessoas, bens materiais, paixões, sensações e esperanças, tudo na ânsia de sentir mais e mais prazer.

Mesmo o ego, em suas múltiplas manifestações, mantém sua existência porque estamos apegados ao prazer que cada um deles nos proporciona. Podemos não querer admitir que atrás da ira se oculta um prazer satânico. Que atrás do desprezo ou orgulho ocultam-se sutis e invisíveis gostos. Etc. Etc. Etc.

Mesmo as ideias ínfemas permanecem a vagar em nossa mente porque nos apegamos ao simples pensar despreocupado. Nos dá prazer elocubrar e fantasiar qualquer pensamento que sorrateiramente penetre em nossa mente. 
Vivemos entorpecidos pelo ópio mental da fascinação. Fascinados pelos pensamentos fantasiosos e inconscientes, não vemos as verdades ocultas nas formas mais simples e singelas. 

Já foi dito que a iluminação é a “Sabedoria do Ordinário” extraída do dia a dia. 

Porém, o mais importante é dar-se conta que o apego não está depositado em todas as coisas materiais e sensações externas que os sentidos proporcionam, e sim no prazer ilusório que essas coisas produzem em nossa mente.

É uma mudança sutil na percepção, mas uma mudança extremamente profunda.

Como posso me desapegar se não reconheço a origem de meu apego?

Como posso me desapegar se não me dou conta que o apego ao prazer não passa de uma ilusão criada em algum canto obscuro da mente?

Muito bem, voltemos ao princípio.

A tagarelice mental é fruto da dualidade e a dualidade é gerada pela mente ordinária em seu hábito nocivo de agarrar e repudiar.

Agora aprendemos que o agarrar e o repudiar tem suas raízes no apego ao prazer e que, este, nada mais é do que uma ilusão interna que desvirtua os sentidos e obscurece a visão clara, livre de projeções e desvirtuações.

Descobrirmos que o despertar é viver o presente intensamente e que a mente iluminada não vagueia descontrolada entre o antes e depois, pois vive o eterno agora.

Por fim, resta-nos dizer que o desejo, monstro insaciável, senhor do sansara, está intimamente atrelado ao apego, pois é o apego ao prazer que projeta no ambiente externo o desejo de adquirir e manter, gerando frustrações e sofrimentos de todos os tipos.

Cessando o apego, cessa o desejo. 

Cessando o desejo, morrem as projeções e fantasias.

Morrendo as elucubrações da mente, passamos a viver o agora. Logo, estamos aptos para iniciar o processo do despertar.

É interessante observar que tudo isso que descrevemos gira em torno de uma ilusão criada e depositada no fundo da mente: O APEGO. 

Por isso, podemos dizer que o sofrimento, ainda que real, não passa no fundo de uma ilusão originada dentro de nós. Somos pai e mãe de todo sofrimento humano. 

Para nos libertarmos desse sofrimento faz-se necessário despertar. Enquanto não vivenciarmos em nosso psiquismo esses ensinamentos, eles não passarão de grades douradas que, no fim, somente embelezam a prisão na qual vivemos.

Por: Daniel Ruffini

A SENDA DA ILUMINAÇÃO
A mente humana é como um cão raivoso preso atrás das grades de ferro de um quintal. Ele ladra e se lança furioso junto às grades sempre que uma pessoa, um carro ou uma bicicleta cruza seu olhar.

A mente humana está em plena degeneração. Ela foi desvirtuada e adulterada através de muitíssimos anos, e até mesmo vidas, de desregramento, de absoluto abandono e escravidão às imposições dos sentidos.

Exato! A mente se tornou uma mera escrava dos sentidos. De senhor, transformou-se em servo dos caprichos da sensualidade, luxúria, vaidade, soberba e demais debilidades.

Entretanto, não precisaria assim ser.

A mente, em seu “estado natural”, é dócil, flexiva, suave, neutra e serena. É possível reconquistar esse estado natural da mente, mas para isso existe uma disciplina chamada a “A Senda da Iluminação”.

A disciplina da mente é uma ciência superior, quase que totalmente desconhecida e pouquíssimo praticada pelos estudantes da doutrina sagrada do Ocidente, ou “gnosis”. Isto porque é uma doutrina onde a teoria, o debate, as comparações, a cultura e a erudição não têm valor nenhum. É, verdadeiramente, a doutrina da experimentação prática.

No Oriente, Milarepa (século XI) é considerado um dos maiores santos e seres de perfeição que já existiu. A Roda do Dharma posta em atividade por Milarepa, gira até hoje, trazendo muitíssimos benefícios a todos aqueles que buscam inspiração em seus ensinamentos para alcançarem a iluminação.

Milarepa costumava isolar-se nas montanhas nevadas para praticar meditação horas e horas. Visitava-o freqüentemente um discípulo médico chamado Gampopa. A certa altura de sua vida, Gampopa precisou afastar-se de seu Mestre para difundir ao mundo a doutrina do Dharma. Porém, o discípulo não queria de forma alguma se afastar de seu mestre sem receber um último ensinamento o qual poderia carregar consigo para o resto de sua vida. 

Milarepa não queria dizer mais nada, porque sabia que o verdadeiro ensinamento está na vivência e na prática, e não na teoria e na informação. Por isso enviou seu amado discípulo sem o tão esperado último ensinamento.
Quando Gampopa, triste e cabisbaixo, já havia se afastado uma boa distância de seu mestre, ouviu Milarepa chamar-lhe: “Discípulo amado, venha correndo, pois tenho um último ensinamento a lhe dar”.

Oh, que alegria! Gampopa saiu em disparada na direção de seu Mestre. Quando já estava bem perto, para sua surpresa, o sagrado Milarepa virou as costas, levantou seu manto, e mostrou para Gampopa suas nádegas completamente calejadas.
Pronto! Este fora o último ensinamento para o amado Gampopa. Logo, ele compreendeu que a iluminação, a liberdade, o despertar e o nirvana não são frutos de especulações filosóficas, doutrinárias ou religiosas, e sim o resultado de anos de prática e nada mais.

Os budhas, os sagrados mahatmas, não nascem entre os debates e as teorias. Não são resultados das cátedras e da leitura de livros esotéricos ou espiritualistas. A iluminação é o resultado de horas e horas, anos e anos de pura experimentação, vivência, absorção e imersão dentro de si mesmo através da disciplina da mente. 

O oriente tem dado ao mundo muitos iluminados, budhas, lamas, mahatmas, e todos eles trilharam a Senda da Iluminação. São seres despertos, sanyases. Homens e mulheres que vivem com seus corpos terrestres e têm suas consciências absolutamente livres dentro do nirvana. Vivem no paraíso e se movem entre os homens disseminando o dharma sagrado, a doutrina da compaixão, da bondade e da doçura. 

A iluminação é o mesmo despertar da consciência. Os seres despertos são seres iluminados. Atingir a iluminação é atingir a liberdade. É livrar-se de todos os processos mecânicos e inconscientes da mente. 

Com a iluminação nasce o budha interior, e como budha interior vem a visão da verdadeira natureza de todas as coisas. Os budhas, se o quiserem, podem então permanecer como habitantes do nirvana ou, tomarem para si, a cruz da cristificação. 

A Senda da Iluminação é para aqueles que estão morrendo verdadeiramente em suas debilidades humanas e anelam com toda sua alma romper o estado lamentável em que a mente se encontra. 

A Senda da Iluminação é para aqueles que viram o passar de anos sem presenciarem mudanças profundas no seu psiquismo, na forma de ver e viver no mundo. É para aqueles que querem acabar com a superficialidade do frio raciocínio e despertar a agudeza da visão clara e intuitiva. 

A Senda da Iluminação nos conduz às portas do nirvana, aos pés do budhas de compaixão e sabedoria. 

Bendito sejam todos os budhas e seres de luz.

Por: Daniel Ruffini

MENTE ILUMINADA 

O trabalho do despertar da consciência é um trabalho de nível superior que exige uma intensa atividade da alma ou, em outras palavras, da pequena porção de consciência que expressamos no diário viver.

O despertar é o elo central que une todas as outras disciplinas ou fatores de revolução da consciência. Sem o despertar podemos dizer que a morte mística é “castrada”, já que a mente não pode ver e compreender o que ela mesma criou e teima em manter oculto e camuflado.

Para transpor certos véus que separam os níveis mais superficiais da mente, mergulhando no inconsciente obscuro (morada de nossos defeitos e condicionamentos), faz-se necessário desenvolver um sentido que se expressa muito além das sensações, sentimentos e pensamentos. Este sentido é a consciência.

Um homem pode morrer em muitos defeitos, e ainda assim, continuar prisioneiro dos mecanismos inconscientes da mente. Pode, também, desabrochar muitíssimas virtudes, porém não chegar a conhecer a paz e a bem-aventurança que só a iluminação pode outorgar. 

Sem a Senda da Iluminação, a alquimia sexual, selo que sacraliza a Grande Obra, corre o sério risco de transforma-se no mais perigoso dos instrumentos de entorpecimento da alma. 

O homem desperto, iluminado, vê não só os fatos, as pessoas e a vida como em verdade são, mas também a causa e o efeito de todas as atitudes, palavras, atos, e acontecimentos que envolvem a existência.

Ora, o que é o despertar e o que devemos fazer para despertar?

O despertar é o descondicionamento absoluto e completo da mente. A mente de um homem desperto é livre de defeitos, fantasias, pensamentos mecânicos e inconscientes, tensões, comparações e julgamentos. 

O processo do pensamento no homem comum é tão insconsciente quanto a escuridão de um abismo oceânico. Cada pensamento é engendrado neste abismo e sobe à superfície numa fração de segundo, criando ondulações e tempestades no grande oceano que é a mente humana.

A Senda da Iluminação é a doutrina da liberação dos processos inconscientes da mente. Quem se livra dos condicionamentos da mente passa a viver no liminar da eternidade, aprende a desfrutar a paz do nirvana e mergulha na sabedoria e na compaixão dos deuses. 

A principal ferramenta da Senda da Iluminação é a meditação. É a meditação que aprofunda a percepção, tornando-a tão aguda quanto um bisturi de alta precisão. 

Meditar é olhar para dentro de si. Quando olhamos o que ocorre em nossa mente, acabamos nos dando conta de que não passamos de prisioneiros do mundo e de tudo que ele contém. Até hoje acreditávamos que éramos livres, porém a meditação nos faz ver quão escravo somos de nós mesmos.

A mente destreinada é deveras rebelde. Sem que queiramos, ela reage, grita, critica, ataca, malicia, julga, calcula, etc, funcionando à revelia de nossa vontade. Um dos primeiros passos no processo do despertar é estudar, em meditação, todas essas ações reacionárias da mente ordinária.

Os pensamentos geram as sensações e emoções de repulsa e agrado, alegria e tristeza, desprezo e empatia, gostar e não gostar. Enfim, toda reação mental deve ser alvo de uma fina e sutil análise. Não se trata de pensar sobre o que pensamos ou sentimos, e sim, observar (ou auto-observar), sem o uso da razão e do triste ato de comparar ou julgar, todos esses sentimentos, pensamentos e sensações.

Em verdade, a auto-observação se parece mais com o ato de contemplar. Na contemplação é a consciência que atua. A mente não contempla, apenas compara, analisa e julga, enquanto a consciência absorve serenamente aquilo que contempla. Logo, não há desvios e distorções.

O ato de contemplar durante a auto-observação deve ser trabalhado, aperfeiçoado e desenvolvido através da meditação. Quem não medita não desenvolve a capacidade de contemplação, portanto, não desenvolve a auto-percepção e a conseqüente transformação que advém da morte dos defeitos e condicionamentos.

A mente deve se transformar no mais polido e perfeito dos espelhos. O espelho não retém nada, não absorve nada e não distorce nada. Reflete a luz tal como ela surge. A mente de alguém que caminha pela Senda da Iluminação não vive nos pensamentos do passado e tampouco se projeta nos pensamentos do futuro. 

A mente iluminada está livre das reações mecânicas de agrado e desagrado, alegria e tristeza, fascínio pelo belo e repulsa pelo feio. A mente iluminada é a “mente natural”, isenta dos obscuros processos do pensamento inconsciente. Ela vive no eterno agora e descansa na placidez onde só existe sabedoria e compaixão.

O recordar e o projetar são distorções do presente. Os apegos, rancores, mágoas, ressentimentos, raiva, nostalgia, gostos e prazeres são como as tempestades oceânicas que castigam o mar e tiram a serenidade das águas límpidas e claras da “mente natural”.

Os medos, preocupações com o que vamos fazer ou como fazer, fantasias, sonhos, devaneios, vaidades, esperanças, ilusões e os planos sem fundamento, são como os peixes que, ao nadarem na imensidão azul do oceano profundo, causam distorções na serenidade mental.

Quando a mente entra em absoluto e total repouso, advém a VERDADE, o novo, o real. Quando isso ocorre, abrimos um canal que nos conecta com o infinito. Um canal que nos une a nossa natureza mais elevada, o princípio e fim de tudo o que fomos e podemos vir a ser.

O homem que crê que seus pensamentos formam sua verdadeira natureza é como o mendigo que, em sua loucura, se crê rei de uma grande nação.

Um homem de luz certa vez disse:
“Eu sonhei que era uma borboleta, brincando no céu; a seguir acordei. Agora eu me pergunto: Eu sou um homem que sonhou ser uma borboleta ou sou uma borboleta sonhando que é um homem”?

Por: Daniel Ruffini

EUS-CAUSA
Querido amigo

Os eus-causa são defeitos criados e alimentados por eras inteiras.
As vidas de qualquer pessoa possuem características semelhantes que se desenrolam através dos inúmeros ciclos de nascimentos e mortes.
Podemos compará-la aos dramas e comédias de qualquer apresentação teatral, diferenciando apenas a época que esta peça é apresentada.

Podemos, por exemplo, ensaiar um drama "Romeu e Julieta" numa época medieval, tendo como pano de fundo, castelos, cavalheiros, espadas e o poder da Igreja. Mas, também podemos apresentar o mesmo drama em plena colonização americana, tendo desta vez, índios, pistoleiros e o velho Woest Americano como pano de fundo. Porém, quem sabe, poderíamos fazer esta mesma apresentação nos dias atuais, só que agora usando carros bonitos, aviões, televisão, etc.

Observe, a essência do drama não muda, o que muda são as aparências externas.

Assim são as vidas, repletas de dramas e comédias, tendo sempre como pano de fundo nossos erros e virtudes principais. No caso em questão, os erros são exatamente originados pelos eus-causa. Os eus-causa são muito fortes porque vêm sendo repetidos milhões e milhões de vezes ao longo centenas e, talvez, milhares de vidas.

Se todos os dias nos encaminhássemos para uma academia de musculação para fazer exercícios, várias vezes ao dia, que fortalecessem nossos braços, teríamos uma força gigantesca neles, não é verdade??!!

Assim são os eus-causa: fortíssimos devido a repetição. Todas as vidas, todos os dias, várias vezes ao dia, repetindo-os e repetindo-os. Some-se a isso o mecanismo inconsciente que nos leva a refinar e ocultar os defeitos. Tal mecanismo também vem sendo aperfeiçoado ao longo de muitas vidas. Pronto, aí está toda a complicação!!

Como cada defeito gera karma negativo de uma espécie, as tragédias de nossas vidas (ou seja o drama) se repetem e se repetem, aumentando cada vez mais o nosso sofrimento.

Romper com isso é fundamental se queremos encontrar paz nessa existência. Se almejamos a iluminação, não há outro remédio a não ser acabar de vez com esta miséria criada por nós mesmos ao longo dessa existência e muitas outras.

Como os eus-causa estão fundamentalmente ligados ao nosso karma mais densos, é necessário um trabalho mais profundo e contínuo para eliminá-los.
A rigor, sequer podemos nos dar conta dos eus-causa sem praticarmos assiduamente a meditação. Tais defeitos são antigos e possuem grande refinamento, ocultando-se atrás de manifestações psicológicas mais superficiais.

O comum é uma pessoa morrer sem conhecer seus eus-causa. Daí a importância de se levar muitíssimo a sério o trabalho espiritual. Sem a meditação, foco na morte espiritual e continuidade do trabalho, haverá apenas o fracasso.

Não devemos nos iludir!!!!!!

Para se avançar rápido na morte dos eus-causa é necessário um trabalho de meditação somado à ação.
Se queremos ter sucesso nesse trabalho é essencial o despertar e o desenvolvimento da COMPAIXÃO unido à ação.
Pensar, sentir e agir com profunda compaixão para com todos os seres. A simples meditação para desenvolver a compaixão já nos ajuda a queimar karma negativo, suavizando nosso caminho.

O fracasso espiritual ou o sucesso do mesmo, seja em qualquer religião ou doutrina (budismo, gnosticismo, cristianismo, etc) está arraigado ao desenvolvimento dessa virtude esplendorosa. Se, motivado por compaixão, agimos em prol do benefício de todos os seres vivos, nosso karma negativo se dissolve aos poucos e começamos a ver com mais clareza nossos eus-causa, podendo assim trabalhar no sentido de não só eliminar suas consequências, mas também, eliminá-los completamente de nosso psiquismo.

Por outro lado, se pertencemos a alguma religião ou doutrina espiritual e não despertamos o dom sublime da compaixão, ali permaneceremos e até progrediremos até certo ponto, motivados como estaremos por desejos egoístas disfarçados. Mas, no final das contas, acabaremos produzindo mais karma, criando mais sofrimento e fortalecendo novamente os eus-causa.

Este é um dos motivos pelos quais as pessoas não progridem e nem sabem porque não progridem.
É necessário dizer que sem uma orientação adequada, podemos, ainda que fazendo qualquer tipo de trabalho espiritual, não só aumentar nossos eus-causa e conseqüente sofrimento, mas também provocar o fracasso espiritual de uma encarnação, o que é lamentável!!!

Bendito sejam os budhas de compaixão que nos indicaram este caminho.
Bendito seja o Cristo que é compaixão em essência.

De teu amigo e servidor.
Por: Daniel Ruffini

DESEJOS
Caríssimos

Todos nós somos movidos por desejos.

Não me refiro aqui às necessidades fisiológicas que comumente e erroneamente são chamadas de desejos: "desejo de comer", "desejo de beber água", etc, e sim à força motriz que se oculta atrás de cada gesto, ato ou palavra que conduzem a existência.

Somos movidos inconscientemente por desejos. Cada desejo, por sua vez, mascara e distorce a existência de fantasias egóicas e defeitos humanos. É o desejo que mantém a Roda do Sansara sempre a girar. 

Se quisermos nos ver livre do desejo, temos que conhecer a origem de cada um deles e transformá-los em pó. Enquanto isso não acontecer, continuaremos a viver uma espiritualidade vazia e ilusória, fonte de tantas distorções e complicações.

É o desejo que nos faz agir. Alguns exemplos:

1) Quando estamos em grupo somos impelidos por um DESEJO intenso de falar e apresentar nossas ideias. Se formos impedidos de falar ou interrompidos bruscamente em algum momento, nos frustramos e podemos reagir de formas distintas, tais como ira, rancor, medo, etc.

O que em verdade estava oculto atrás desse desejo???

2) Fazemos parte de um grupo esotérico. Estudamos e compartilhamos ensinamentos a cerca de iniciações, faculdades espirituais, mistérios iniciáticos, etc. Motivados por esses estudos temos o DESEJO de nos tornarmos iniciados e levantarmos vários kundalinis. Fazemos práticas de mantras, meditação, rituais, etc. Porém, os anos passam e nada de iniciações e graus esotéricos. Logo nos frustramos e nos tornamos céticos, apáticos ou depressivos.

O que em verdade estava oculto atrás desse desejo???

3) Somos devotos de mestres e santos que ensinam a importância de se desenvolver a compaixão e a caridade.
Temos um DESEJO intenso de fazer práticas para desenvolver a capacidade de sentir compaixão e amar. Somos diariamente motivados a dar esmolas ou ajudar os necessitados.
Entretanto, quando alguém não aceita nossa compaixão, repudia nossa caridade ou nos trata com agressividade, sentimo-nos profundamente magoados e rancorosos.

O que em verdade estava oculto atrás desse desejo???

Certamente, cada desejo aqui exemplificado é movido por uma mola EGÓICA oculta que, além de nos ser imperceptível, nos agrada salientar e edificar.
Pouco, bem pouco valor têm as obras de caridade ou espiritualidade se forem realizadas em nome da vaidade, do orgulho, da cobiça ou de outros defeitos quaisquer.

O que devemos fazer então???
Não devemos praticar o bem???

Sempre devemos praticar o bem, ensinar o bem, falar com honestidade, etc etc etc. Entretanto, se queremos IR ALÉM DAS APARÊNCIAS, é urgente conhecer profundamente o bem e o mal que em tudo que existe. É urgente conhecer o origem de cada DESEJO que nos motiva à ação.

Não estamos aqui para falar de caridade simplesmente pela caridade. Tampouco estamos aqui para falar de compaixão porque é bonito falar desses sentimentos ou falar de amor porque todas as religiões sempre pregaram a importância desta bela palavra.

Estamos aqui para ensinar COMO ENTRAR NO CAMINHO E MANTER-SE NELE.
Estamos aqui para ensinar o que fazer para nos tornarmos A COMPAIXÃO, A BONDADE E O AMOR, e não especular a cerca dessas maravilhosas virtudes e atributos do Amado Pai.

Doutrinas espirituais que falam de amor e bondade existem “aos montes”. Necessário se faz ensinar como viver e encarnar tais idéias. Para tal, precisamos ir além dos conceitos, debates, especulações e crenças a cerca do bom e do ruim, do mal ou do bem, do certo ou do errado. E isso somente é possível conhecendo a MOLA OCULTA DOS DESEJOS PESSOAIS QUE MOVEM NOSSO DIA A DIA E NOSSA VIDA A MÉDIO E LONGO PRAZO.

Toda ação mecânica e inconsciente sempre virá à tona como um desejo que APARENTEMENTE PODE SER BOM OU RUIM. O desejo sempre tem como força motriz - o EGO. 

A consciência está além do desejo, do querer, do gostar ou não gostar. A consciência é o Vazio e o Vazio é a consciência.

Se não formos capazes de olhar para dentro de nós e irmos além das aparências e superficialidades da mente, passaremos a vida debatendo a cerca dos tratados religiosos e sobre a vida dos grandes mestres. Entretanto, nós mesmos não escreveremos nossa doutrina e tampouco a viveremos.

Nossa vida será simplesmente um reflexo distorcido da vida de outros.
A incapacidade de ir além dos conceitos é tão grave que podemos repetir os mesmos exemplos acima, com os mesmos desejos em ação, só que agora passando por situações um pouco diferentes. 

Observe:

1) Quando estamos em grupo somos impelidos por um DESEJO intenso de falar e apresentar nossas idéias. Só que dessa vez, todos nos ouvem e vêm como falamos bem, com clareza, inteligência e até sabedoria. Por isso ficamos felizes e alegres porque estamos fazendo a coisa certa. Nos destacamos perante nossos semelhantes e isso nos deixa alegres e felizes.
Penso eu: Como falo bem! As pessoas precisam me ver e ouvir falando!

O que em verdade estava oculto atrás desse desejo???

2) Fazemos parte de um grupo esotérico. Estudamos e compartilhamos ensinamentos a cerca de iniciações, faculdades espirituais, mistérios iniciáticos, etc. Motivados por esses estudos temos o DESEJO de nos tornamos iniciados e levantarmos vários kundalinis.. Fazemos práticas de mantras, meditação, rituais, etc. Assim, os anos passam e de fato nos destacamos. Nos tornamos sacerdotes, instrutores, temos sonhos bonitos e, quem sabe, despertamos até mesmo algumas faculdades espirituais.
Ficamos felizes por tudo isso.
Pensamos: Somos membros seletos da Loja Branca! Faço meu trabalho divulgando a sagrada doutrina! Pobrezinho dos nossos irmãos que não fazem parte de nosso grupo ou doutrina! Pobrezinho dos crentes que têm uma religião tão simples e desprovida de mistérios! Realmente sou alguém especial!

O que em verdade estava oculto atrás desse desejo???

3) Somos devotos de mestres e santos que ensinam a importância de se desenvolver a compaixão e a caridade.
Temos um DESEJO intenso de fazer práticas para desenvolver a capacidade de sentir compaixão e amar. Somos diariamente motivados a dar esmolas ou ajudar os necessitados.
Sentimo-nos super felizes. Somos muitos especiais. Olhamos os demais com desdém ou tristeza. Temos um mestre e uma doutrina que ninguém tem. Somos guias de pessoas e amamos profundamente nossos semelhantes. Aqueles que não fazem o que eu faço ou pensam como eu penso certamente estarão perdidos. De fato sou especial.

O que em verdade estava oculto atrás desse desejo?

Podemos ver como os desejos aqui são veículos de defeitos um pouco distintos dos anteriores. Todavia não importa. O fato é que atrás desses desejos existe obscuridade e inconsciência.

E assim passam os dias e o SER não se estabelece no TEMPLO DIVINO. A mente se fortalece, e com ela as projeções espirituais e filosóficas. Ao contrário de morrermos, sutilizamos nossos defeitos e, conseqüentemente, sutilizamos nossos desejos.

Vivemos uma farsa espiritual. Sabemos tudo, porém a PAZ E A FELICIDADE não se cristalizam. Logicamente, para ocultar de nós mesmos nossa falta de serenidade e espiritualidade, criamos mais e mais conceitos, fantasias, etc etc etc.

Assim caminhamos todos nós....

É necessário ir além dos debates.
É necessário ir além das aparências.
É necessário ir além dos conceitos.
É necessário ir além dos desejos.
É necessário ir além dos defeitos.
É necessário ir além das virtudes.


Por: Daniel Ruffini
Fonte: http://www.luzbrilhante.org